O ÓLEO QUE TE VIU SURGIR

Com o avanço da ocupação no vale do rio Açu, colonos se fixaram no distrito da Ilha de Manoel Gonçalves, então pertencente a Assu. No início do século XIX, já havia uma pequena fazenda no local onde hoje se encontra o município de Alto do Rodrigues. Com a erosão da ilha e a migração de seus habitantes, a fazenda foi adquirida, em meados daquele século, pelo capitão Joaquim Rodrigues Ferreira, que construiu ali uma casa sobre uma elevação natural — símbolo de seu domínio sobre a terra.

Em 1880, a casa grande ainda era a única construção relevante do lugar. Com o tempo, surgiram casas de taipa, abrigando lavradores do algodão e vaqueiros. Famílias de áreas próximas, afetadas pelas cheias do rio Açu, também passaram a morar na região. Assim, o local passou a ser chamado de Alto do Rodrigues, em referência ao seu proprietário.
 
Joaquim Rodrigues era filho de Manuel Rodrigues Ferreira — um dos fundadores de Macau — e neto de Tomé Rodrigues e Ursula Ferreira de Mello, antigos proprietários das ilhas Macau e Manoel Gonçalves até 1797. Também foi padrinho de Monsenhor Honório em 1879 e teve atuação política em Macau, mostrando o vínculo entre poder fundiário e político da elite regional.
 
Contudo, a formação de Alto do Rodrigues se insere em uma lógica de ocupação baseada na concentração fundiária e na exclusão social. A família Rodrigues, além de influente na política regional, esteve diretamente vinculada ao sistema escravocrata, havendo registros de ex-escravizados em suas propriedades mesmo após a abolição de 1888.
 
Dessa forma, a história do município não pode ser contada apenas pela ótica das elites agrárias. É necessário ampliar o olhar e reconhecer os sujeitos historicamente silenciados — trabalhadores pobres, vaqueiros, lavradores e descendentes de pessoas escravizadas — que contribuíram de forma decisiva para a constituição do território.
 
Por Gian Henrique Felipe