PRIMEIRA VISITA DE BOLSONARO AO NORDESTE TERÁ HOMENAGEM CANCELADA E PROTESTO COM CAIXÃO
Cinco meses após o início de seu mandato, o presidente Jair
Bolsonaro (PSL) faz nesta sexta-feira (24) sua primeira visita oficial
à região Nordeste como presidente da República.
A ida será marcada por protestos e hostilidades de
manifestantes, além de um clima de desconfiança entre Bolsonaro e os
governadores da região —onde 8 dos 9 são de partidos da oposição.
O Nordeste é a região na qual o presidente tem a sua
pior avaliação. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em abril, 39% dos
nordestinos consideram o seu governo ruim ou péssimo ante 30% da média
nacional.
Bolsonaro também foi derrotado nos nove estados da região na
eleição do ano passado, ficando atrás do então candidato Fernando Haddad (PT).
O presidente vai ao Recife para reunião com governadores dos
estados nordestinos, de Minas Gerais e do Espírito Santo, na qual vai anunciar
um acréscimo de R$ 2,1 bilhões para o Fundo Constitucional de
Financiamento do Nordeste, voltado para obras de infraestrutura.
Também vai a Petrolina (PE), onde entrega imóveis do
programa Minha Casa, Minha Vida e assina ordem de serviços para construção
de dois viadutos e duplicação da BR-428.
O presidente deve ser recebido com protestos nas duas
cidades. A expectativa, contudo, é que Bolsonaro seja blindado da ação dos
manifestantes.
No Recife, haverá um protesto organizado por estudantes da
UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) em frente ao Instituto Ricardo
Brennand, onde o presidente cumpre agenda.
O protesto terá carro de som, leitura de carta aberta ao
presidente e até a queima de um caixão. Os manifestantes, no entanto, ficarão
do lado de fora do prédio do instituto, que tem acesso controlado, e não
chegarão perto do presidente.
Em Petrolina, vereadores retiraram da pauta na manhã desta
quinta-feira (23) um projeto que concederia o título de cidadão petrolinense a
Bolsonaro após um grupo de manifestantes ocupar o plenário. Eles carregavam
cartazes com a expressão “petrolinense não”.
Além disso, na sexta-feira, garimpeiros das cidades de
Salgueiro e Serrita devem protestar pela liberação de novas áreas de garimpo na
região.
O anúncio da viagem a Pernambuco também gerou reações nas
redes sociais. Na última segunda-feira (20), a tag “Nordeste cancela Bolsonaro”
chegou ao primeiro lugar mundial nos assuntos mais comentados no Twitter. Horas
depois, os apoiadores responderam com a tag “Nordeste com Bolsonaro”.
Aliados do presidente também se organizam para recebê-lo nos
aeroportos de Petrolina e Recife.
Cercada de expectativa, a reunião com os governadores
do Nordeste deve tentar construir pontes entre as duas partes.
Em entrevista concedida em janeiro ao SBT, Bolsonaro disse
que os governadores nordestinos não deveriam pedir dinheiro para o governo
federal.
“Espero que não venham pedir dinheiro para mim, que eu não
sou o presidente deles. O presidente deles está em Curitiba”, afirmou, numa
referência ao petista Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena na capital
paranaense.
Desde então, os governadores do Nordeste fortaleceram a
atuação conjunta e criaram um consórcio interestadual para viabilizar convênios
e apoio mútuo entre os estados da região.
Em cartas abertas, os gestores já se manifestaram contra o
contingenciamento do orçamento
das universidades federais e contra o decreto que flexibiliza o porte
de armas.
Por outro lado, os gestores têm adotado um tom diplomático e
institucional ao tratar da visita do presidente à região.
“Acho importante que o presidente venha ao Nordeste, ouvir
sobre a situação do Nordeste”, afirmou o governador da Bahia Rui Costa (PT).