DE 18 PROCURADORES QUE PASSARAM NA LAVA JATO, 11 ESTÃO EM MENSAGENS VAZADAS
Dos 18 procuradores da República que já fizeram parte da
força-tarefa da Lava
Jato no Paraná, 11 apareceram em conversas do aplicativo
Telegram divulgadas
domingo (9) pelo site The Intercept Brasil.
Criada em março de 2014, atualmente a força-tarefa conta com
15 procuradores. Desses, 9 tiveram mensagens reproduzidas pela reportagem.
Procuradores atuais da Lava Jato que tiveram mensagens
vazadas
Athayde Ribeiro
Deltan Dallagnol
Isabel Groba
Januário Paludo
Jerusa Viecilli
Julio Noronha
Laura Tessler
Paulo Galvão
Roberson Pozzobon
Dos três que deixaram a operação, apenas Carlos Fernando dos
Santos Lima teve a conversa divulgada. Diogo Castor de Mattos foi apenas citado
em um trecho pelo coordenador Deltan Dallagnol.
Em setembro do ano passado, depois da autorização
do ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), os
procuradores discutiram em um grupo formas de impedir
que o ex-presidente Lula desse entrevista na prisão.
A preocupação, segundo os diálogos revelados pelo site, era
de que a entrevista pudesse ajudar a eleger o então candidato à Presidência
Fernando Haddad (PT) ou "permitir a volta do PT". Desta forma, também
foram discutidas formas de amenizar o impacto da entrevista ou de conseguir que
ela acontecesse depois das eleições.
No mesmo mês, no entanto, ministro Luiz Fux suspendeu a
liminar concedida por Lewandowski. A decisão foi comemorada no grupo de
procuradores.
Diálogo entre Deltan e Moro
Segundo as conversas divulgadas pelo site, ao longo de dois
anos o ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro,
orientou as investigações da operação Lava Jato em Curitiba por meio de
mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram com o procurador da República
Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa.
Moro sugeriu que o procurador trocasse a ordem de fases da
Lava Jato, para não ficar "muito tempo sem operação", deu conselhos e
pistas informais de investigação e antecipou uma decisão que ele ainda não
havia tornado pública.
As mensagens também mostram que Moro criticou e sugeriu
recursos ao Ministério Público.
O então juiz federal também teria sugerido que a procuradora
Laura Tessler passasse por um treinamento, por não ir muito bem "para
inquirição em audiência".
Outro lado
Em nota, a força-tarefa da Lava Jato falou em "ataque
criminoso" aos membros do MPF-PR e lembrou o ataque de hackers ao celular
do ministro Sérgio Moro, na semana passada.
Segundo o documento, os procuradores "mantiveram, ao
longo dos últimos cinco anos, discussões em grupos de mensagens, sobre diversos
temas, alguns complexos, em paralelo a reuniões pessoais que lhes dão
contexto".
Esses procuradores seriam amigos próximos e, "nesse
ambiente, são comuns desabafos e brincadeiras". "Muitas conversas,
sem o devido contexto, podem dar margem para interpretações equivocadas",
disse a nota.
Por fim, a força-tarefa afirmou que "lamenta
profundamente pelo desconforto daqueles que eventualmente tenham se sentido
atingidos", mas reitera que nenhum pedido de esclarecimento ocorreu antes
das publicações, "o que surpreende e contraria as melhores práticas
jornalísticas".
"De todo modo, eventuais críticas feitas pela opinião
pública sobre as mensagens trocadas por seus integrantes serão recebidas como
uma oportunidade para a reflexão e o aperfeiçoamento dos trabalhos da
força-tarefa", completou a nota.
Em nota divulgada hoje, a força-tarefa da Operação Lava Jato
em Curitiba voltou a se manifestar e afirmou que a "ação criminosa de um
hacker" teve início por volta de abril. Com a invasão, teriam sido
clonados aparelhos celulares e contas em aplicativos de comunicação
instantânea, o que resultou no vazamento de mensagens trocadas entre
procuradores.