CRIMINOSO SE ARREPENDE DE APLICAR GOLPE EM COMPRA ONLINE E DEVOLVE PRODUTO QUE SERIA ROUBADO NO RN
A jornalista Pryscilla Miranda foi surpreendida por uma
notícia que lhe deixou preocupada. Havia sido vítima de um golpe: vendeu uma
câmera fotográfica na internet e não receberia o valor da transação. No
entanto, dias depois, ela teve uma nova surpresa: o criminoso se arrependeu e
mandou a máquina de volta pelos Correios.
Essa história começou no início do mês, quando Pryscilla
resolveu anunciar no Mercado Livre o produto que pretendia vender. A câmera que
lhe acompanhou por alguns anos na vida profissional em Natal, cidade onde mora,
agora serviria para ajudar financeiramente.
No dia seguinte ao que cadastrou a máquina fotográfica no
site, um homem comentou na postagem que havia comprado o produto. Orientou que
ela checasse o e-mail, que lá estariam as instruções para concretizar o
negócio.
Pryscilla conta que, em seu e-mail, chegaram três mensagens
com a logomarca do Mercado Livre, afirmando que o pagamento do comprador,
identificado como Wagner da Silva Rodrigues, havia sido aprovado.
Chegou ainda um outro e-mail, este supostamente de Wagner da
Silva, informando da compra. Ela agora precisava enviar a câmera fotográfica,
para aí receber o dinheiro. Pryscilla Miranda respondeu e-mail ao homem,
pedindo a ele o seu telefone, para que pudessem conversar pelo WhatsApp.
A jornalista disse ao comprador falso que demoraria um tempo
para enviar o produto, porque não tinha o dinheiro para o frete, porém ia
consegui-lo com amigos. Após juntar os R$ 150, Pryscilla foi aos Correios e
enviou a câmera para o endereço indicado no e-mail fajuto, em São Paulo.
Depois disso, a jornalista mandou uma mensagem ao homem,
contando que já havia mandado a encomenda. Ela disse também que só tinha
colocado à venda porque estava precisando do dinheiro, e que esperava que ele
fizesse bom proveito da câmera.
O Golpe
Dez dias após o primeiro contato, a jornalista estranhou a
demora do pagamento e decidiu se comunicar com o comprador. Perguntou se ele
havia recebido a encomenda, porém, ele não respondeu.
Pryscilla Miranda procurou o Mercado Livre e conseguiu
contato por telefone. “A atendente perguntou se eu tinha imprimido a tag
eletrônica que a empresa manda nas compras. E eu disse 'que tag eletrônica?'
Foi aí que ela falou que podia ser um golpe”, relata.
Na quarta-feira (21) da semana passada o comprador falso
retomou o contato com Priscylla, e a informou que a máquina fotográfica
chegaria ainda naquela tarde na casa dela, que a encomenda havia voltado.
Àquela altura o equipamento já havia chegado e a jornalista já sabia do golpe.
“Perguntei o que havia acontecido, como se não soubesse, e
ele continuou atuando. Foi quando perguntei se era um golpe e se ele havia
desistido de aplicar”, conta.
O estelionatário respondeu que sim, e que havia desistido do
crime depois que percebeu “as condições” de Pryscilla. No final, ainda deu um
conselho. “Não vende na internet não”.
Defraudações
O crime cometido contra Pryscilla Miranda é comum, de acordo
com Fábio Vila, chefe de investigações da Delegacia Especializada em
Falsificações e Defraudações (DEFD). “Eles (criminosos) já estão aplicando há
muito tempo esse golpe, então sabem de todas as nuances, entendem a forma de
enganar. Eles procuram sempre quem não têm o costume de vender”, explica.
Foi o caso de Pryscilla. Esta foi a primeira vez que a
jornalista tentou fazer negócio pela internet. “Eles sabem que quem não vende
com frequência não sabe a forma como o Mercado Livre trabalha”, acrescenta o
policial.
Fábio Vila orienta que é necessário sempre atentar para o
endereço do e-mail que envia a mensagem de confirmação, como se fosse a empresa
prestadora do serviço. Neste caso, o Mercado Livre. “O Mercado Livre tem um
domínio próprio. 'mercadolivre.com.br', depois do '@'. Então se for algo
diferente disso é de se desconfiar”, esclarece.
No caso de Pryscilla, o e-mail até faz referência à empresa,
contudo tem um domínio de uma conta do gmail:
mercadolivre.compras24h@gmail.com.
Além disso, Vila diz que, independente de a mensagem ter o
domínio correto, o melhor a se fazer é entrar na conta pessoal em que se
cadastrou o produto posto à venda, para saber se há alguma mensagem informando
da compra. “É o mais adequado a se fazer”.
De toda maneira, o chefe de investigações da DEFD alerta que
há ainda outras formas de aplicação de golpe em comércio online. Segundo ele,
outro golpe comum se dá quando o criminoso chega a pagar pelo produto, mas, ao
receber, informa que chegou com defeito. “A empresa de comércio online então
devolve o montante a ele e diz que precisa devolver o produto. Só que aí o
criminoso envia de volta um produto defeituoso, ou até mesmo qualquer outra
coisa, como uma pedra”.