REPÓRTER DEMITIDA PELA TV GLOBO ELOGIA EMISSORA, MAS LEMBRA CASOS DE RACISMO


Reportagem de Paulo Pacheco no UOL informa que Camila Silva, uma das poucas repórteres negras da Globo, foi dispensada e encerrou sua trajetória de oito anos na emissora. A jornalista, que passou pelo canal pago GloboNews e pelo esporte, trabalhava desde maio nas madrugadas para os telejornais “Hora 1”, “Bom Dia SP” e “Bom Dia Brasil”. Desempregada há três semanas, ela tenta entender os motivos da demissão. “Fui dispensada na quarta-feira, dia 7, com a explicação de que me esforcei mas que o esporte não está na minha veia e que toda vez que falo disso parece que tenho um ‘gap’. Essas foram as palavras. Cada um enxerga as coisas de um jeito. Pode parecer arrogância, mas prefiro os comentários de quem gosta do meu trabalho e que sempre diz que assistia ao programa por causa das minhas reportagens”, analisa Camila Silva ao UOL, em sua primeira entrevista após sair da Globo.

De acordo com a publicação, a jornalista trabalhou durante dois anos no esporte da Globo, área da qual ela não tinha intimidade mas adquiriu experiência em um programa sobre os Jogos Olímpicos do Rio para a Globo Internacional. Foi indicada para substituir Natalie Gedra –atualmente na ESPN– por ter um texto leve e descontraído, diferente do padrão “quadrado” dos “medalhões” da casa, porém recebia elogios do público e críticas internas. Apesar da demissão, Camila agradece à Globo, onde começou como estagiária, por todas as oportunidades: “É um ótimo lugar para se trabalhar e fazer amigos. Aconselho a meninos e meninas estagiarem, trabalharem lá porque tem uma estrutura, te dá estabilidade e, sinceramente, percebo um esforço descomunal para ter um impacto positivo na sociedade e nas agendas atuais –com o feminismo, contra o machismo e o racismo”.

Além do estilo descolado, Camila Silva chamou a atenção por ser uma das raras repórteres negras da TV –na Globo de São Paulo, a única é Mariana Aldano. A discriminação pela cor da pele e pelo gênero atrapalharam a jornalista na vida e na profissão. Em muitas ocasiões, no esporte, era testada para saber se entendia de futebol. Ela relembra alguns casos de preconceito. “Quando fui trabalhar na madrugada, um cinegrafista muito amigo meu perguntou: ‘Vão te colocar na madrugada? Essa gente está maluca? De noite, como vão fazer para trabalhar a luz com você?’. A preocupação dele era que eu era negra e que eu não ia aparecer. Obviamente deu tudo certo, mas quando ele falou pensei: ‘O que as pessoas acham que eu sou? Eu sou só negra’, mas estamos interiorizados com a história de as pessoas que trabalham no vídeo serem brancas”. A jornalista admite ter sido difícil mostrar o racismo e o machismo embutidos nas falas de colegas porque temia ser tachada de “chata” e “politicamente correta”, mas reconhece a importância de abrir um pouco a mentalidade preconceituosa, completa o Portal UOL.