CURTO-CIRCUITO NA CAMPANHA DE BOLSONARO SE AGRAVA
O curto-circuito no comando da campanha de Jair Bolsonaro só piora a dias do segundo turno das eleições.
Com números internos que confirmam a dianteira de Lula, a cúpula do comitê bolsonarista registra profundas divergências internas quanto às estratégias adotadas nesta reta final da disputa presidencial.
Os últimos lances da crise envolvem a reação ao episódio dos tiros e granadas disparadas pelo aliado Roberto Jefferson contra policiais federais no domingo e a “denúncia” de que rádios estariam deixando de veicular a propaganda eleitoral de Bolsonaro.
A entrevista convocada às pressas na noite de segunda-feira pelo ministro Fábio Faria, das Comunicações, para anunciar na frente do Palácio da Alvorada uma suposta fraude de emissoras de rádio nordestinas para favorecer Lula, segue sob duras críticas de parte do comando político da campanha.
Chefes de partidos do Centrão que costumam ser consultados nas principais decisões do comitê de Bolsonaro dizem que foram pegos de surpresa com a iniciativa de Fábio Faria, que fez o pronunciamento ao lado de Fábio Wajngarten, ex-secretário do Planalto e conselheiro de Bolsonaro.
Depois de o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, dar um prazo de 24 horas para que a campanha de Bolsonaro apresente evidências da suposta fraude, integrantes da ala política do QG se referiam textualmente ao episódio como “factóide”, sem fazer nenhuma questão de esconder o descontentamento.
Para eles, foi um erro que só cria mais embaraços para Bolsonaro nesta reta final, especialmente pela dificuldade de demonstrar cabalmente, em tempo hábil, que de fato os spots não vinham sendo veiculados pelas emissoras — algo que, naturalmente, pode gerar um problema jurídico difícil de ser contornado.
Até Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, o partido de Bolsonaro, foi pego de surpresa com a “entrevista” de Faria e Wajngarten na frente do palácio.
Uma fonte com acesso ao núcleo da campanha admite que a estratégia foi deflagrada pela dupla para tentar desviar o foco da crise aberta pela atitude tresloucada de Roberto Jefferson de atacar os policiais que foram prendê-lo, no domingo passado, no interior do Rio.
A própria reação de Bolsonaro ao episódio também tem sido alvo de pesadas críticas internas.
Entre os aliados do Centrão, predomina a leitura de que a campanha não conseguiu descolar a ação de Jefferson da imagem do presidente-candidato. Na definição da ala que não gostou da estratégia, foi uma reação atrapalhada.
O curto-circuito tem um pano de fundo que, em público, os bolsonaristas não admitem: o pessimismo com os números.
Os trackings da campanha confirmam as pesquisas que mostram que Lula está em vantagem e que, nessa toada, a tendência é que Bolsonaro perca as eleições.
A atmosfera de otimismo observada no comitê até dias atrás se dissipou de domingo para cá.
ADENDO: O bolsonarismo raiz em 2018 dizia que ganhou “sem dinheiro e sem tempo de TV”. Agora tem dinheiro, tempo de TV, orçamento secreto, consignado pra Auxílio Brasil, todo o aparato estatal para a reeleição, mas se não ganhar já tem o discurso pronto: "Bolsonaro não venceu porque não tocou o jingle de campanha na rádio da cidade de 5 mil habitantes, no interior do nordeste."