É SENSATO QUE O CONVENCIMENTO DE QUEM AINDA NÃO ESCOLHEU SEU CANDIDATO SE DÊ ATRAVÉS DE UM PROGRAMA DE GOVERNO


Eleições polarizadas como a brasileira de 2022 costumam transferir para a hora do voto o ambiente mercurial e agressivo que racha torcidas organizadas de futebol ou, para ficar com uma outra metáfora, ainda mais lamentável, o clima belicoso dos antigos coliseus romanos. Não deveria ser assim. Contudo, os defensores aguerridos do presidente
Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula parecem se comportar como se estivessem prontos a entrar em combate, à revelia do bom senso, dispostos a mostrar que apenas um lado presta e o outro, ao avesso, não. A alta temperatura, alimentada pela rejeição dos dois lados da contenda, não será, no entanto, o fiel da balança no próximo dia 30. É bem provável que um perfil completamente diferente, que não faz o “L” com as mãos nem anda com a camisa da seleção brasileira, seja determinante na escolha do próximo presidente da República: o eleitor indeciso.

Trata-se de um naco do eleitorado que muda de tamanho, de acordo com os variados levantamentos dos institutos de pesquisa, mas é sabidamente grande. Um estudo feito pela Quaest com exclusividade para VEJA indica que 11% dos eleitores são “voláteis” — representam 5% dos cidadãos realmente indecisos e outros 6% que optaram por um dos candidatos no primeiro turno, mas que admitem fazer escolha diferente agora. É um contingente de 17,16 milhões de pessoas e que chama a atenção das campanhas a menos de duas semanas do pleito. Convencer um pedaço dessa turma pode simplesmente significar a vitória. Hoje, ela se concentra primordialmente na Região Sudeste, onde estão os três maiores colégios eleitorais do país (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), e tem renda familiar de até cinco salários mínimos, de ambos os gêneros e de faixas etárias diversas, variedade que torna a tarefa de conquista desses votos bastante trabalhosa. Em 2006, um pouco antes da reeleição de Lula, VEJA identificou o eleitor que faria a diferença: a mulher nordestina, de educação média, com pouco mais de 25 anos. E assim foi. O cenário agora é mais fluido.

A indecisão não é um mal em si. É natural do bom combate político atrair os cidadãos que ainda não escolheram seu candidato — mas seria sensato que o convencimento brotasse de programas de governo claros, com garantias de manutenção da ordem democrática e de responsabilidade econômica, em vez da gritaria vã, cozida em um caldeirão de tolices aquecido pela guerra religiosa e pelas fake news. A estridência é o pior dos caminhos, mais afasta do que agrega, apenas engrossa o coro das animosidades. Não é desse modo que se conversa com quem ainda não sabe se tecla 22 ou 13, o brasileiro que pode decidir quem será o presidente do país nos próximos quatro anos. No mundo ideal, um indeciso escolheria a estrada a tomar com calma, a partir de indicações claras e coerentes. Infelizmente, estamos longe desse comportamento, embora ainda haja tempo para esfriar a desnecessária fervura.