UM MÊS DEPOIS DE DEIXAR O GOVERNO, ROBINSON FARIA VAI ÀS REDES SOCIAIS PARA UM DESABAFO SOBRE GRATIDÃO E INGRATIDÃO
Depois de transmitir o cargo para a governadora Fátima
Bezerra, no dia primeiro de janeiro, o ex-governador Robinson Faria (PSD) falou
pela primeira vez.
Robinson escreveu pela primeira vez.
Em suas redes sociais, fez um balanço de sua gestão, deu
explicações sobre o que a crise o impediu de fazer, e falou em Gratidão e
Ingratidão.
Confira:
Depois de 32 anos de vida pública, exercendo mandatos eletivos
até chegar ao cargo de governador, em 2015, numa eleição que as pessoas
denominaram “a vitória do impossível”, tomo a liberdade de fazer com vocês uma
reflexão de um dos sentimentos mais nobres do ser humano que é a “gratidão”.
Deus nos deu o livre arbítrio para que pudéssemos escolher
os nossos próprios caminhos.
O tema “Gratidão ou Ingratidão” há muito vem sendo discutido
por filósofos, poetas, escritores e ate na Bíblia Sagrada, por Davi, que
desabafa com Deus sobre a ingratidão no Salmo 41, onde daqui a pouco farei
menção.
Santo Agostinho falou muito sobre a ingratidão, comentando
que é a maior fraqueza do homem. Enquanto que a gratidão é a maior das
virtudes. Alguns poetas escreveram que a ingratidão é o câncer da alma; e
outros, que a gratidão é a memória do coração.
É bom lembrar que Jesus curou dez leprosos e apenas um
voltou para agradecer.
Voltando a Davi, no Salmo 41, ele indagava a Deus num tom de
decepção e desabafo: “Eles dizem assim: ele está muito mal mesmo e não vai se
levantar mais”.
Davi continua “Até o meu melhor amigo, em quem eu tanto
confiava, aquele que tornava refeições comigo, até ele se virou contra mim”.
Em outro momento, Davi também desabafou: “Todos os que me
odeiam falam de mim cochichando, e pensam que o pior vai me acontecer”.
E chega o momento de maior angústia, e pergunta a Deus: “Os
meus inimigos falam mal de mim e perguntam: Quando será que ele vai morrer e
ser esquecido?”
Quero deixar claro que essa narrativa que divido com vocês
não tem motivação política, assim como não reflete o fato de não ter sido
vitorioso na última eleição para o governo.
Tenho consciência de que procurei governar cumprindo o
juramento que fiz a Deus: “Governar para os que mais precisam”.
Me orgulho do RN ser o estado que hoje tem o maior programa
de acesso à alimentação do Brasil, oferecendo mais de um milhão de refeições,
num preço simbólico de 1 real, saciando a fome de milhares de desempregados.
O Transporte Cidadão, oferecendo transporte gratuito para
doentes crônicos, pessoas com necessidades especiais, idosos.
Somos o único estado do Brasil que oferece esse serviço.
Sei que muitos vão falar: “Mas Robinson deixou atrasar o
pagamento do servidor”.
Quero pedir a sua paciência para uma reflexão, com
honestidade e sem o calor da batalha eleitoral.
Como governador, infelizmente, só tinha duas escolhas para
tomar.
A primeira seria a mais cômoda, mais fácil, vamos chamar
assim, que seria demitir 20 mil servidores, e assim teria governado os quatro
anos sem atraso.
A outra opção, que foi a que escolhi, não demitir e lutar,
perseverar e esperar um apoio da União, que foi dado a outros estados e aqui
nunca chegou.
Vocês sabem que não tive apoio político, muito pelo
contrário, fui boicotado por aqueles que derrotei em 2014, que quiseram me
enfraquecer para voltar ao poder.
Eu sabia que a minha decisão de não demitir me levaria ao
atraso salarial e, por consequência, ao gigantesco desgaste político.
Mas à noite, quando vou dormir, não imagino a cena de um pai
ou uma mãe, uma enfermeira, um policial, um médico e tantos outros servidores
chegando em casa e falando pra família: “Estou desempregado, não sou mais
servidor do Estado”.
Essa culpa eu não levo.
Fui aconselhado por muitos a demitir os servidores.
Vários governadores demitiram e foram reeleitos.
Falaram também: “Governador, o estado tem três milhões e
quinhentos mil habitantes, não serão vinte mil que irão derrotá-lo.
Vejam, meus amigos, o que vivi, o que passei sentado naquela
cadeira solitária com a caneta na mão para assinar as demissões.
Tomo hoje a liberdade para abrir o coração, com toda a fé
que Deus me deu, que para mim a escolha estava na ambição de um novo mandato ou
no coração de não castigar milhares de pais, mães e filhos.
Falam que governar não se pode ter coração. Não vejo dessa
forma, sei que a minha escolha custou a minha derrota.
Os servidores não entenderam, não compreenderam que eu
estava garantindo o futuro deles.
Perdi a eleição, mas não perdi a dignidade, a gratidão, o
sentimento de justiça!
O coração venceu a ambição, essa é a grande vitória.
Se Deus e o povo anônimo me deram a missão de governar o RN,
no momento mais difícil da sua história, é porque Deus conhecia o meu coração.
Lembro que o povo até comentou que a minha vitória em 2014
foi semelhante a de Davi contra Golias.
Não fui eu quem quebrei o RN. Não fui eu quem quebrei o
Brasil. Não fui eu quem quebrei a Petrobras, que era um braço forte da nossa
economia.
Recebi o estado mais falido do Nordeste.
Também não tive culpa do meu governo ter enfrentado a maior
seca dos últimos 100 anos, dizimando o setor primário e contribuindo para
abalar ainda mais as nossas finanças.
Mas nunca desanimei, sabia que seria o governo do impossível,
da superação, da perseverança e da esperança.
Mesmo com todas as tempestades que enfrentei, com coragem e
humildade, combatendo o bom combate, deixo um legado de mais de 1.300 obras, em
diversas áreas, como por exemplo na Saúde, com a construção de 160 leitos de
UTI acabando com a fila da morte.
Hospitais regionais que esperavam décadas por cirurgias
ortopédicas para não dependerem mais do Walfredo Gurgel, em Natal.
Pau dos Ferros, Caicó, Currais Novos, Macaíba, Parnamirim, o
novo Hospital da Policia Militar com vinte novos leitos de UTI, com a reforma e
ampliação, o hospital saiu de 60 para 130 leitos, aumentamos o tamanho em seis
vezes.
E tantas outras obras esperadas ha décadas como o Anel
Viário
Metropolitano, a Moema Tinôco, a Estrada da Castanha em
Serra do Mel, o aeroporto comercial de Mossoró, já com voo da Azul.
O resgate do turismo gerando milhares de empregos, o novo
Centro de Convenções de Natal, que passou de 6 mil para 13 mil lugares. Temos
hoje o Centro de Convenções mais bonito do Brasil.
Enfim, poderia ficar aqui prestando contas de obras
históricas, mas deixo o tempo, que é o senhor da Verdade, tocar o coração dos
norte-rio-grandenses.
Voltando ao tema “Gratidão”, só tenho a agradecer a Deus,
aos meus seis filhos que Deus me deu, ao povo amigo do RN que me deu a missão
de ser o seu governador em 2014.
Terminando aqui a nossa conversa, confesso que escrevi do
começo ao fim com os olhos tomados de lágrimas.
Tive que parar algumas vezes para rezar, me recompor e pedir
a Deus inspiração!
A minha contribuição depois de ter sofrido na alma a dor da
ingratidão muitas vezes.
Nunca percam dentro de si o sentimento da gratidão, mesmo
que não seja retribuído.
Deus estará vendo o seu coração, é Ele quem nos julgará.
Peço desculpas pelos meus erros, continuo aqui torcendo pelo
nosso Rio Grande do Norte.
Amo todos vocês.
Que Deus abençoe a todos!
Muito obrigado!