AZIZ SOBRE ARAS: “NÃO PODE IGNORAR RELATÓRIO DA CPI, NÃO É O DONO DA VERDADE”


O senador Omar Aziz (PSD-AM), que preside a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a conduta do governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19, disse neste domingo (26), durante uma entrevista à Folha de S.Paulo, que o procurador-geral da República, Augusto Aras, notadamente submisso ao chefe do Executivo federal, não poderá ignorar o relatório final da CPI que, de acordo com o parlamentar, é muito robusto.

“Nosso relatório é muito consistente. Augusto Aras não é dono da verdade, não pode sentar (no relatório final). Olha, sou filho de italiano com árabe, não vai dar nem em pizza, em quibe ou esfirra. Nós vamos fazer justiça”, protestou Aziz, que ainda fez questão de lembrar que o PGR só poderia tentar blindar o presidente da República e não outros atores envolvidos nos casos de corrupção investigados e que, além disso, os senadores poderiam encaminhar um notícia-crime ao STF.

“Tem outros fatores, nem tudo passa pelo Augusto Aras. E mesmo assim você pode levar ao Supremo notícia-crime, e o Supremo manda o Ministério Público abrir o procedimento, já aconteceu isso. Não dá para você achar que uma instituição como o Ministério Público Federal, que tem procuradores de vários pensamentos, ache normal chegar a 600 mil vidas e fazer de conta que não está acontecendo nada, jogar para debaixo da mesa. Não menosprezem o acompanhamento da sociedade brasileira. Tu tá achando que o cara vai matar isso no peito (arquivar) e vai dizer: ‘Não, peraí, eu mato isso no peito e vou resolver’. Não é assim, não”, argumentou.

As últimas revelações sobre o plano de saúde Prevent Senior, que chocaram o Brasil, também foram alvo das considerações do senador ao longo da entrevista concedida ao diário conservador paulista.

“Acho que o caso da Prevent Senior está provado. Admitiram que há subnotificação, que o paciente entrava com Covid e quando ia a óbito eles colocavam outro tipo de doença. O governo adotou essa medida. Para que criou o TrateCov, a capitã cloroquina? Para eles, era uma propaganda positiva, aumentou o número de usuários do sistema Prevent Senior. Essa autonomia médica que todo mundo fala, o Bolsonaro fala, permitiu que os caras fizessem o que quisessem. Permitiu que uma associação lá do Nordeste, o Médicos pela Vida, publicasse páginas inteiras defendendo o tratamento precoce”, disse o senador à Folha.

Aziz contou ainda que ficou horrorizado com a bagunça generalizada que é administração Bolsonaro na área da saúde e que o caso que melhor exemplifica isso foi o do escândalo Covaxin, que teria sido esquematizado por Roberto Dias, ex-secretário de Logística do Ministério da Saúde, durante um happy hour, num shopping, regado a chope e petiscos.

“O Dominghetti (Luiz Paulo, cabo da PM em Alfenas, MG), aquilo é uma loucura, se você for analisar aquilo, aquilo é um retrato administrativo do governo federal na área de saúde. De um governo que vai para um restaurante, um bar, sei lá, discutir a compra de 400 milhões de vacinas. Nem centro acadêmico estudantil tem isso”, relembrou o presidente da CPI, indignado.

Omar Aziz listou ainda os crimes que teriam sido revelados durante o curso das investigações no Senado e falou sobre os principais pontos que devem constar no relatório final.

“Crime contra a vida, que é a questão do tratamento precoce propagado. Isso levou a óbito muitas pessoas. Crime sanitário, omissão do governo, e aí não é só em relação ao governo federal, ao que aconteceu na cidade de Manaus, com a falta de oxigênio. Ao invés de se mandar oxigênio, mandou uma equipe para propagar o tratamento precoce. Indícios fortíssimos, e até agora não chega ao presidente Bolsonaro, no Ministério da Saúde de compra para tirar vantagem da vacina, principalmente da Covaxin”, explicou.

Embora afirme que não viu relação direta do presidente da República com os casos de compra irregular de vacinas para tirar vantagem financeira, Aziz insistiu que ficou claro que Bolsonaro cometeu crime de prevaricação, por não ter tomado qualquer providência ao tomar conhecimento das fraudes no caso da tentativa de compra do imunizante indiano Covaxin, revelados pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF).

“Aí o presidente entra quando é alertado pelo (deputado federal) Luís Miranda, ele não toma providência”, contextualizou.