A CORRIDA ISOLADA DO PT



Em 2014, com a máquina federal em mãos, o PT conseguiu atrair uma ampla gama de legendas para a candidatura de Dilma Rousseff. A força do PT também se destacou nos arranjos estaduais. A sigla da então presidente encabeçou 17 candidaturas a governador, a maioria com coligações amplas.

Quatro anos e um impeachment depois, o quadro de alianças mostra um PT mais isolado tanto na disputa presidencial quanto nas eleições para governador.
A situação jurídica do candidato petista à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – favorito nas pesquisas, mas ameaçado pela Ficha Limpa – prejudicou a formação de alianças na disputa presidencial. Em 2014, Dilma se coligou com oito siglas, entre elas o PMDB, PP e PR. Lula só conseguiu se aliar com o PCdoB e o Pros, siglas de tamanho modesto.

Nas disputas estaduais, o isolamento crescente do partido também é evidente. Desta vez, o PT encabeça 16 candidaturas. Em cinco delas, o partido teve que se contentar com chapas puras, sem coligação. Em outras cinco, só conseguiu apoio do PCdoB, seu aliado na disputa federal. Em uma, conta apenas com o PCdoB e o nanico PHS. Ou seja, em 11 das 16 disputas, o PT está isolado ou só conta com aliados de influência reduzida.

Em 2014, o PT lançou 17 candidaturas estaduais. Só se viu isolado em três disputas. Os 14 candidatos restantes conseguiram contar com o apoio de outras siglas que não o PCdoB.
A formação de coligações tem impacto direto na distribuição do tempo de TV, permitindo que um candidato amplie sua fatia de propaganda eleitoral. Também sinaliza tendências nas disputas estaduais, comprovando a viabilidade um candidato. Os aliados contribuem com recursos para a vitória, como tempo de TV e sua capilaridade nos municípios. Em troca, podem cobrar participação em um eventual governo.

Em 2014, nenhum governador eleito no Brasil havia se lançado sem ao menos atrair pelo menos dois outros partidos. O mesmo valeu para os cinco governadores que o PT elegeu naquele ano. Todos conseguiram se aliar com ao menos quatro siglas.
Em 2018, a perda de terreno do PT na composição de coligações é mais evidente em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. 

No Rio de Janeiro, a candidatura de Lindberg Farias ao governo em 2014 contou com o apoio do PSB e PV, além do sempre fiel PCdoB. Desta vez, com Marcia Tiburi encabeçando a chapa, só pôde contar com os comunistas. No Paraná, a candidatura de Gleisi Hoffman ao governo em 2014 atraiu o PRB, PTN, PDT e o PCdoB. Em 2018, o paranaense Dr. Rosinha teve que se contentar com uma chapa sem qualquer apoio.

Em Mato Grosso do Sul, a candidatura de Delcídio Amaral havia atraído 11 partidos há quatro anos. O candidato petista da vez, Humberto Amaducci, está isolado. O mesmo cenário se repete no Espírito Santo e Distrito Federal. 

No Rio Grande do Sul, o ex-ministro Miguel Rossetto só conseguiu se aliar com o PCdoB. Em 2014, o PT gaúcho, que tinha Tarso Genro concorrendo à reeleição (ele perdeu no segundo turno), havia se coligado com seis legendas. 
Em São Paulo, Luiz Marinho só conseguiu compor com o PCdoB. É o pior arco de alianças do PT paulista desde 1986, quando o partido lançou Eduardo Suplicy ao governo em uma chapa pura. Nas sete eleições seguintes, o partido, sempre conseguiu formar coligações com pelo menos dois outros partidos. A última pesquisa Datafolha aponta que Marinho só tem 4% das intenções de voto. Na história do PT em São Paulo, candidatos do partido ao governo nunca obtiveram menos de 10% dos votos válidos no primeiro turno.

Em apenas cinco estados os petistas conseguiram montar coligações que romperam o isolamento ou englobam partidos além do PCdoB e PHS: Piauí, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Acre. 

Não por acaso, são candidaturas que têm atualmente controle das máquinas estaduais, o que costuma atrair mais apoio. Quatro candidatos são governadores que concorrem à reeleição e um é apadrinhado pelo atual governador petista. Em Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel conseguiu atrair quatro legendas (PR, DC, PSB e PCdoB). No Piauí, Wellington Dias conta com outros sete partidos, inclusive o MDB do presidente Michel Temer.

No Ceará e na Bahia, os governadores petistas Camilo e Rui Costa atraíram mais de uma dezena de siglas cada. Já no Acre, estado controlado há 20 anos pelo PT, a candidatura de Marcus Alexandre, apadrinhado do atual governador Tião Viana, atraiu outras 14 siglas.
Dessas cinco candidaturas com leque amplo de alianças, quatro aparecem em primeiro lugar nas intenções de voto entre as últimas pesquisas disponíveis. Apenas o mineiro Pimentel aparece em segundo lugar, segundo o Datafolha, com 20% das intenções.
Entre os onze petistas que concorrem em chapas solitárias ou que contam apenas com o apoio do PCdoB ou PHS, só dois candidatos aparecem bem posicionados nas pesquisas. Décio Lima, que disputa o governo catarinense em chapa pura lidera com 16% das intenções de voto, segundo o Ibope. No Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, coligada com PCdoB e PHS, está na liderança com 34%.

No entanto, nos dois estados, o número de votos nulos/branco e de indecisos ainda é alto. Entre os eleitores potiguares, 40% não têm candidato. Em Santa Catarina, são 57%. Sem coligações amplas, os dois candidatos aparecem atrás dos principais concorrentes na distribuição do tempo de TV. O isolado Décio conta com menos da metade da fatia dos candidatos do MDB e PSD, que atraíram cinco partidos cada. Fátima também larga em terceiro lugar na distribuição da propaganda eleitoral. 

Os nove candidatos restantes patinam por enquanto nas pesquisas ou estão muito atrás do líder. No Distrito Federal, o isolado Miragaya do PT, aparece com apenas 3%, segundo o Ibope. No Paraná, Dr. Rosinha, que também concorre com chapa pura, tem 3% da preferência. No Pará, Paulo Rocha, coligado apenas com o PCdoB, tem 13% e está bem atrás do líder, Helder Ramalho (MDB), que aparece com 43%.