ALUNO DE COLÉGIO MILITAR CUSTA TRÊS VEZES MAIS QUE ESTUDANTE DE ESCOLA REGULAR
Cada aluno de colégio militar custa ao País três vezes mais
do que quem estuda em escola pública regular. São R$ 19 mil por estudante, por
ano, gastos pelo Exército nas 13 escolas existentes – que têm piscinas,
laboratórios de robótica e professores com salários que passam dos R$ 10 mil.
O plano de governo do candidato à Presidência Jair Bolsonaro
(PSL) fala que, em dois anos, haveria “um colégio militar em todas as capitais
de Estado”. A ampliação desse modelo é a ideia mais repetida pelo
presidenciável na área de educação.
O setor público investe, em média, R$ 6 mil por estudante do
ensino básico anualmente. Se todos os alunos de 11 a 17 anos estivessem
matriculados em instituições militares, seriam necessários R$ 320 bilhões por
ano, o triplo do orçamento do Ministério da Educação (MEC).
Bolsonaro, que é capitão da reserva, tem elogiado os
colégios pelo ensino de alto nível, com disciplina rígida. Ao jornal O Estado
de S. Paulo, afirmou que eles seriam interessantes em áreas violentas. “Existe
eficiência porque existe disciplina. Hoje, qual o professor que vai tomar um
celular de um aluno em aula?”
O desempenho dos alunos das escolas do Exército em
avaliações nacionais é, de fato, superior ao restante das escolas. No Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), a média é maior até do que a dos alunos de
escolas particulares. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),
principal indicador de qualidade no País, dos colégios militares é 6,5 (do 6.º
ao 9.º ano do fundamental). O das escolas estaduais, 4,1.
No entanto, a renda desses estudantes é classificada como
“muita alta” pelo MEC, um grupo em que se inserem apenas alunos de 3% das
escolas brasileiras. A classe socioeconômica é considerada por educadores como
um dos fatores mais importantes para a aprendizagem, pelas influências que o
aluno recebe e pelas condições de vida.
A maioria dos estudantes dos colégios mantidos pelo Exército
é filho de militar. O restante precisa fazer provas em que a concorrência chega
a 270 por vaga. Na Fuvest, o curso mais disputado, Medicina, teve 135 candidatos
por vaga em 2017. Em alguns lugares, como Brasília, há cursinhos preparatórios
para o exame do colégio militar.
A diretora executiva do movimento Todos Pela Educação,
Priscila Cruz, afirmou que o modelo tem custo alto e é para poucos,
principalmente porque faz seleção de alunos. Atualmente, todas as instituições
do Exército juntas atendem 13.280 alunos do 6.º ano do ensino fundamental ao
3.º ano do médio. O Brasil tem 17 milhões de estudantes nessa faixa etária.
“Não se pode perpetuar a ideia na educação de que alguns têm privilégios. O que
precisa é uma solução para todos e, principalmente, para os mais pobres.”
Apesar de haver problemas de aprendizagem em todo o País, as
crianças de classe baixa são as que têm resultados piores. Só 21% dos alunos mais
pobres estão em níveis adequados de Português aos 11 anos. O índice sobe para
56,4% entre os mais ricos.
AUTONOMIA PEDAGÓGICA
As escolas militares não têm a função de formar quadros para o Exército – só
uma minoria segue a carreira e quase todos vão para boas universidades. As
instituições – mantidas com verba do Ministério da Defesa – têm autonomia para
montar o currículo e a estrutura pedagógica.
“A maioria dos nossos professores tem pós-graduação. Temos
psicólogos, infraestrutura. Nossa meta é preparar o aluno para a universidade e
para a vida”, afirmou o diretor de educação preparatória e assistencial do
Sistema Colégio Militar do Brasil, general Flávio Marcus Lancia. Ele não quis
comentar a ideia de Bolsonaro de expandir o modelo.
Para David Saad, presidente do Instituto Natura, que apoia
iniciativas na área de educação, o colégio militar é uma escola de referência e
“não foi feito para que todas sejam iguais a ele”. “Para virar política pública
é preciso funcionar para qualquer aluno e usar professores da própria rede, por
exemplo.”
O custo aproximado para se ter um colégio militar para cada
capital – ou seja, mais 16 escolas pelo País, com cerca de mil alunos cada –
seria de R$ 300 milhões. Isso sem contar o valor que seria gasto para
construção das estruturas. Bolsonaro tem dito que pretende fazer “o maior
colégio militar do Brasil no Campo de Marte, em São Paulo”. A cidade é uma das
capitais que não têm uma escola do Exército e há anos se estuda essa
possibilidade na instituição.
O montante para a ampliação da rede militar representa mais
do que foi usado pelo MEC em 2017 para formação de professores no País (R$ 200
milhões). “É preciso ver o que é prioritário para esse volume grande de
recursos. Não se pode apostar com dinheiro público e, sim, olhar para aquilo
que já deu resultado”, disse Priscila.
Como exemplo, educadores defendem que o Brasil adote o
modelo de tempo integral para o ensino médio, em que os adolescentes ficam até
as 21 horas na escola. O Estado de Pernambuco, que já tem 50% das escolas
integrais, conseguiu atingir o Ideb mais alto do País. O custo por aluno/ano é
de cerca de R$ 8 mil. “Todas as pesquisas mostram melhoria relevante de
aprendizagem, até em grupos vulneráveis, diminuição da evasão e uma conexão
maior do jovem com a escola”, disse Saad.
“Rafaela uma vez esqueceu a estrelinha do boné e teve que
voltar para casa para pegar e poder entrar”, lembrou a mãe. “Mas acho a
disciplina adequada ao bom desenvolvimento dos alunos.”