NO RN, 63 MUNICÍPIOS NÃO GERAM RECEITA SEQUER PARA PAGAR SALÁRIO DO PREFEITO
Um em cada três municípios brasileiros não consegue gerar
receita suficiente sequer para pagar o salário de prefeitos, vereadores e
secretários. O problema atinge 1.872 cidades que dependem das transferências de
Estados e da União para bancar o custo crescente da máquina pública, segundo
levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan).
Alguns desses municípios foram criados após a Constituição
de 1988, que facilitou esse movimento, e ainda não conseguiram justificar sua
emancipação. Essa falta de autonomia financeira, porém, não impediu que
voltasse ao Congresso um projeto de lei que permite a criação de 400 novos
municípios.
Hoje, a situação mais grave está em cidades pequenas, que
não têm capacidade de atrair empresas – o que significaria mais emprego, renda
e arrecadação. Em geral, contam com um comércio local precário e, para evitar a
impopularidade, as prefeituras cobram poucos impostos. Há cidades em que o IPTU
só começou a ser cobrado depois que a crise apertou.
No Rio Grande do Norte, segundo o estudo, há 63
municípios nessa situação – o que representa 37% de todas as prefeituras
potiguares (são 167, ao todo). É o oitavo estado do País (e o terceiro do
Nordeste) com maior número de prefeituras com baixas receitas.
O levantamento da Firjan mostra que, em média, a receita
própria das cidades com população inferior a 20 mil habitantes é de 9,7% – ou
seja mais de 90% da receita vem de transferências públicas. Em alguns casos, a
receita própria do município é praticamente zero, como verificado em Mar de
Espanha (MG), Olho D’Água do Piauí (PI) e Coronel Ezequiel (RN).
Segundo a Firjan, que analisou o balanço anual entregue
pelas prefeituras à Secretaria do Tesouro Nacional, essas cidades – que não se
pronunciaram – não conseguem gerar receita para cobrir nem 0,5% das despesas
com a máquina pública. “Três décadas após a Constituição, o quadro que vemos é
de total desequilíbrio entre o volume de receitas e a geração de arrecadação
própria na grande maioria das prefeituras brasileiras”, afirma o coordenador de
Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart Costa.
Ele pondera ser natural que a gestão do atendimento ao
cidadão consuma parte dos recursos municipais, uma vez que os governos precisam
planejar e administrar as contas. Mas, no ritmo de hoje, esses gastos estão
consumindo recursos que poderiam ir direto para a prestação de serviços aos
moradores. Na média, os gastos com a máquina pública, que incluem funções
administrativas e legislativas, consomem 21,3% do orçamento dos municípios com menos
de 5 mil habitantes – equivalente à despesa com educação.
O presidente da Confederação Nacional dos Municípios,
Glademir Aroldi, diz ser contra a criação de municípios que não tenham
condições de atender à população. “Mas em alguns locais há espaço para criação
de novas cidades”, diz. O projeto de lei que permitiria a emancipação foi
reprovado no governo Dilma Rousseff, mas voltou ao Congresso.