RIO GRANDE DO NORTE FOI O ESTADO MAIS VIOLENTO DO BRASIL EM 2017

Ao todo, foram 2247 homicídios no RN em 2017. Foto: Alexandre Cassiano/TV Ponta NegraArte: Keops Ferraz/OP9

O Rio Grande do Norte foi o estado mais violento do país no ano passado. Estatísticas reveladas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que o Brasil atingiu em 2017 o maior número de mortes violentas intencionais da sua história. Foram 63.880 vítimas, o equivalente a 175 por dia, 7 por hora. A taxa de mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes atingiu a marca de 30,8. O RN assumiu a liderança entre os estados mais violentos do país em 2017, com uma taxa de 68 mortes para cada 100 mil habitantes. Os dados foram revelados nesta quinta-feira (9).

O ano de 2017 foi marcado por brigas entre facções criminosas que causaram diversas mortes. Um desses episódios aconteceu em janeiro do ano passado na Penitenciária de Alcaçuz, na Grande Natal, onde ao menos 26 detentos foram mortos. Ao todo, foram 2.247 homicídios (também conhecidos como Crimes Violentos Letais Intencionais ou CVLIs) no estado em 2017, mais de 300 a mais do que em 2016 (1.915). A estatística contabiliza homicídios dolosos (quando há intenção de matar), latrocínios (roubo seguido de morte) e lesões corporais seguidas de morte.

Outro estado do Nordeste que apresentou crescimento na escalada de violência foi o Ceará, com uma taxa de 59,1 mortes para cada 100 mil habitantes, que o deixou na terceira colocação dos estados mais violentos do país. Foram 5.171 homicídios no ano passado, mais de 1,5 mil a mais do que em 2016 (3.457). Ao todo, quatro dos nove estados da região tiveram aumento no número de mortes violentas.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmou que os números “refletem uma problemática nacional e que o Ceará não tem medido esforços para manter a diminuição das mortes violentas e de outros crimes em território cearense. A SSPDS-CE ressalta, porém, que a falta de padrão na contabilização dos dados de violência, pelos estados, influi diretamente nos dados gerais e no ranking divulgado pelo FBSP.”

Pernambuco também apresentou crescimento no número de homicídios em 2017. Foram 5.426 no ano passado, contra 4.480 em 2016. O estado possui uma taxa de 57,3 mortes por cada 100 mil habitantes. Alagoas foi outro estado a registar aumento na quantidade de homicídios. Foram 1.780 em 2017, 14 a mais do que em 2016 (1.766), com uma taxa de 56,9 mortes para cada 100 mil pessoas.

Na contramão do aumento da violência, os estados da Bahia, Maranhão, Paraíba, Piauí e Sergipe tiveram redução no número de homicídios em 2017. Na Bahia, enquanto foram contabilizados 6.635 mortes violentas intencionais em 2016, este ano o número caiu para 6.247. O estado registrou uma taxa de 45,1 mortes em cada 100 mil habitantes. O Maranhão foi outro a melhorar seus números. Em 2017, foram 1.945 homicídios, contra os 2.215 CVLIs em 2016. São 29,4 mortes violentas registradas para cada grupo de 100 mil pessoas.

Já o estado da Paraíba registrou 1.286 homicídios no ano passado, enquanto em 2016 foram contabilizados 1.324. A taxa de mortes em cada grupo de 100 mil habitantes foi de 31,9. Em nota, a Secretaria de Segurança e Defesa Social da Paraíba declarou que os dados “vêm a confirmar o trabalho desenvolvido na Paraíba pelo Programa Paraíba Unida pela Paz desde 2011”. O texto continua afirmando que “2017 é o sexto ano consecutivo de redução da Taxa de Homicídios dolosos na Paraíba”.

O Piauí viu o número de homicídios cair em mais de 50. Em 2017, foram 651 CVLIs, enquanto em 2016 foram 703. A taxa de mortes para cada 100 mil pessoas foi de 20,2. Por fim, Sergipe também teve queda nas estatísticas. Foram 1.185 homicídios em 2017, contra 1.356 em 2016. A taxa de homicídios em cada grupo de 100 mil habitantes foi de 55,7.

O Portal OP9 entrou em contato com as Secretarias Estaduais de Segurança, mas até a publicação dessa matéria, não recebeu todas as respostas.

Apesar do aumento no número de homicídios, a Secretaria de Segurança Pública de Alagoas informou, por meio de nota, que o estado saiu da terceira para a quinta colocação dos mais violentos do país. Segundo a pasta, nos últimos três anos Alagoas saiu do topo da lista que liderou por dez anos e se tornou ainda um dos mais transparentes. O Secretário Lima Júnior, disse que os resultados aumentam a responsabilidade do governo no sentido de reduzir os índices.

Em Pernambuco, a Secretaria de Defesa Social comemorou as quedas e justificou os números com a crise. “O ano de 2017 foi muito difícil para todos os estados brasileiros. O desemprego e a forte crise econômica fizeram crescer exponencialmente os homicídios em praticamente todas as unidades da federação. E as dificuldades do ano passado começaram a ser vencidas no segundo semestre, já com indicadores abaixo dos seis primeiros meses anteriores (-11,23%). A curva descendente está completando 8 meses consecutivos de queda nos CVLIs em Pernambuco, no comparativo com os mesmos meses do ano anterior. Os dados de julho de 2018, que serão divulgados no próximo dia 15 de agosto, já mostram, preliminarmente, essa nova diminuição – verificada também nos crimes contra o patrimônio (julho será o 9º mês da sequência). Considerando todo o primeiro semestre de 2018, houve 21% de declínio na comparação com os seis meses iniciais de 2017 (de 2.875 para 2.279 assassinatos), o que representa 596 vidas poupadas”, disse através de nota.

Feminicídios caíram em cinco estados, mas tiveram aumento expressivo na Bahia

Enquanto no Brasil o número de feminicídios cresceu assustadoramente (de 929 em 2016 para 1.133 em 2017), o Nordeste apresentou uma pequena redução nas estatísticas de assassinatos de mulheres. Cinco dos nove estados da região tiveram queda na quantidade de feminicídios registrada. A principal (e triste) exceção foi a Bahia, que de 18 assassinatos femininos em 2016 viu o número saltar para 74.

Procurada, a Secretaria da Segurança da Bahia (SSP) respondeu em nota destacando que conta atualmente com 15 Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (Deams) e 13 estruturas da Operação Ronda Maria da Penha (acompanha mulheres com medidas protetivas). Informa também que equipes das duas unidades, além do trabalho de rotina, visitam escolas, faculdades e comunidades explicando sobre o problema do machismo. “A SSP solicita que a mulher, no primeiro sinal de agressão por parte do marido ou companheiro, procure a Delegacia mais próxima e registre a ocorrência”, diz a nota.

Alguns estados não contabilizaram a quantidade de feminícidios, como o Ceará. Já Maranhão e Sergipe só registraram os dados de 2017. No Maranhão, foram 50 feminicídios. Já Sergipe teve 6 casos do tipo. Na comparação com 2016, os estados restantes do Nordeste apresentaram queda na estatística em 2017.

Em Alagoas, foram 13 feminicídios em 2017, um a menos do que em 2016. Na Paraíba, o número caiu de 24 (2016) para 22 (2017). A Secretaria de Segurança e Defesa Social destacou em nota que o estado “possui a menor Taxa de Homicídio contra mulheres do Nordeste, e a nona menor do país, com o valor de 3,7 por grupo de 100 mil. Este número foi decorrente de uma redução de 22% em 2017 em relação ao ano anterior”.

Em Pernambuco, uma redução expressiva: foram 76 assassinatos de mulheres em 2017, enquanto em 2016 o número foi de 112. No Piauí, a queda foi menor: de 31 (2016) para 26 (2017). Por fim, no Rio Grande do Norte a quantidade de feminicídios foi de 23 em 2017 contra 27 em 2016.